O sol resplandecente da manhã
Sussurra aos ouvidos hinos de liberdade.
Haverão noites a fio,
Noites eternas, imponentes, geladas e úmidas...
Haverão equívocos, desvios, desordem
A fim de testar e lapidar o espírito resiliente,
o espírito que chora baixinho dentro do Ser
mas permanece movendo seus passos à diante,
por vezes pequenos passos,
por vezes largos passos...
Sempre no ímpeto instintivo de continuar,
Mesmo com medo, com frio, se sentindo longe de casa,
sem saber, contudo, onde está a sua casa...
Olhando a diante à espera do sol nascente,
que certamente virá com o acolhimento.
Mesmo sem compreender o propósito do todo,
Mesmo sem ter a clareza sobre o caminho,
O espírito haverá de deixar-se guiar pela luz que ressoa no céu,
em suas lembranças e dentro de si.
Deixar-se levar pelo aconchego dos olhos que sorriem nas crianças,
Do carinho espontâneo dos animais,
E do farfalhar da natureza que vive e respira, ensinando benevolência e caridade a todo instante.
O Sol nascente é sempre a prova
daquilo que se duvida durante a madrugada.
A confirmação da fraternidade que supre a falta,
eterna falta de nossos corações.
A falta por vezes se torna a bússola,
mas é um equívoco fazer dela sua inspiração.
Que possamos viver sem ser confundidos pelos desejos da falta.
A falta existe porque estamos longe, separados de casa.
A eterna casa que nos aguarda.
A falta existe porque nos sentimos sozinhos, mesmo juntos de todos.
A desconexão com os irmãos que nos rodeiam
inunda de solidão os nossos corações.
Nossa latência em sentir a própria falta
por vezes nos inibe de olhar em volta,
estamos juntos, todos, tentando ir para casa.
Se um irmão mais velho abraça e protege o mais novo,
este deixa de sentir medo.
Se o irmão mais novo consola o mais velho,
trazendo-o leveza e alegria,
este se torna mais resiliente.
Se orientados pela falta,
a banalidade será o nosso guia.
Se confundirmos a dúvida com o desejo,
a banalidade manchará o nosso manto.
E filhos adultos não retornam sujos para casa.
Evitam sujar-se ,mas quando o fazem,
eles mesmos tratam de limpar a própria bagunça,
mesmo que isso adie a sua chegada.
O sol resplandecente da manhã
nos guardará, para que cheguemos em casa.